Criado por Mayara Portugal em seg, 22/05/2017 - 15:40 | Editado por Patrícia Pereira há 7 anos.
Com a temática “Faz escuro, mas eu canto. Liberdade em todo canto”, foi realizado, na sexta (19), no Sesi Mariana, o III Seminário de Saúde Mental. O evento teve participação de diferentes profissionais e especialistas da saúde mental para debater questões sobre o tema, dando ênfase ao Dia da Luta Antimanicomial, celebrado em 18 de maio.
Os convidados participaram de mesas que abordaram temas como autonomia e mobilidade do sujeito, consumo de substâncias e exclusão social; e atenção psicossocial: desafios de territorialização. Além dos debates, o evento recebeu usuários do Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (Crescer Mariana) e do Centro de Atenção Psicossocial Mariana (CAPS), para apresentações culturais de música, teatro e capoeira.
Na mesa “Consumo de drogas e exclusão social”, a arte-educadora do Consultório de Rua Noroeste de Belo Horizonte, Daniela Ramos; a psicóloga e professora da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Cristiane Santos; e o psiquiatra e professor da UFMG, Luís Fernando Couto, compartilharam suas experiências e discutiram sobre abuso de álcool e outras substâncias danosas em jovens e adultos.
Sob mediação da psicóloga do CRESCER/Mariana, Germana Bonfioli, os convidados da mesa trouxeram questões como o julgamento social que dependentes químicos recebem, as medidas tomadas para redução de danos e o atendimento oferecido para essas pessoas.
Dentre os fatores sociais causados pelo uso de drogas, a segregação e a exclusão ganharam destaque na fala dos convidados. Segundo Daniela, a questão social antecede o consumo de substâncias. A arte-educadora explica a importância de lidar com os usuários sob a perspectiva da redução de danos. “É importante ampliar o vínculo dos usuários sem romper a relação deles com a droga, mas sim construir laços e, em seguida, iniciar o processo de reduzir danos sob a perspectiva da responsabilidade social”, explica.
O psiquiatra Luís Couto enumerou algumas funções das drogas a serem consideradas na relação dos jovens. “As drogas entram nessa fase da vida para fazê-lo estabelecer um lugar no mundo; ajudá-lo ou impossibilitá-lo de fazer novos vínculos; ou, ainda, inibir a criação desses vínculos tornando-o dependente químico e, por último, interferir na relação dele com seu próprio corpo”, acrescenta. Além disso, Couto salientou a importância do amparo a esses jovens no momento de transição da infância para a adolescência.
Nos desdobramentos da mesa, também foi discutida a relação da sociedade com os usuários de drogas. Invisibilidade e preconceito foram palavras utilizadas para definir a diferença do tratamento social entre usuários de drogas lícitas e ilícitas.
A psicóloga Cristiane Santos chamou a atenção para a necessidade de deslocar a pena moralista que a sociedade atribui ao usuário de droga. “As pessoas fazem um pandemônio quando se trata de crack, mas nós sabemos que, numericamente, a droga mais utilizada é o álcool. Esse posicionamento está muito carregado aos nossos preconceitos e moralismos”, acrescenta.
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HOLOCAUSTO BRASILEIRO - No encerramento da terceira edição do Seminário, houve a exibição do documentário “Holocausto Brasileiro”, baseado no livro-reportagem de mesmo nome da jornalista Daniela Arbex. A exibição foi uma parceria entre o Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) e o Cine CAPS.
O livro de Daniela Arbex conta a história do Hospital Colônia, o maior hospital psiquiátrico do Brasil, localizado em Barbacena, Minas Gerais, onde cerca de 60 mil pessoas foram mortas entre 1903 e 1980.
Após a exibição do filme, a professora do curso de Jornalismo da UFOP, Marta Maia, mediou uma roda de conversa entre o público e a escritora. No bate-papo, a jornalista contou as dificuldades enfrentadas no processo de escrita do livro e os desafios na direção do documentário. “O meu papel, enquanto jornalista, foi dar a possibilidade para que essas pessoas pudessem se revelar, contar a história delas. O trabalho de pesquisa foi árduo, minha maior dificuldade foi encontrar os sobreviventes, mas eles estavam dispostos a falar, só faltava alguém para ouvi-los” finaliza.