Criado por Lethícia Bueno em ter, 01/08/2017 - 10:35 | Editado por Lígia Souza há 7 anos.
Aprovada em abril deste ano pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex) e iniciada em maio, a RAMui é dividida em fases de atuação, para identificar os problemas e os dilemas da violência de gênero. A primeira fase do projeto traçou um perfil dessa violência na cidade, com verificação de dados e notificações de boletins de ocorrência (B.O), por exemplo. Hoje, a rede está em sua segunda fase, que consiste em identificar os serviços e grupos, tanto da UFOP quanto da comunidade, que trabalham com essa temática, e tentar firmar parcerias. Por último, o projeto tem como objetivo criar e oferecer uma cartilha apresentando as medidas que as mulheres vítimas de violência podem tomar e os setores especializados aos quais podem recorrer, além de oferecer a elas suporte e assistência junto aos parceiros estabelecidos.
Segundo Elaine Machado, professora da Escola de Medicina (Emed) e idealizadora da RAMui, Ouro Preto possui algumas ações voltadas para a questão, mas ainda muito fragmentadas. Sem uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) no município e sem o amparo adequado do Estado e da sociedade, a tendência é que essas mulheres se calem e não denunciem. Além disso, a falta de capacitação dos profissionais que lidam diretamente com as vítimas não é eficiente, expondo-as a mais violência e fragilidade.
Para Machado, a rede será um canal de integração entre universidade e comunidade, já que essa discussão muitas vezes passa despercebida, pelo fato de Ouro Preto ser uma cidade turística e republicana. “A gente vê a violência como algo externo mas, na realidade, está muito mais próxima, muito mais imbricada no nosso dia a dia e a gente não percebe”, alerta.
Entraves - A professora também comenta sobre as dificuldades do projeto. Uma delas é o baixo financiamento para a confecção das cartilhas, quando a terceira fase da RAMui for atingida. Outro obstáculo é que “a violência contra a mulher infelizmente ainda não é prioridade nas agendas de saúde e de políticas públicas”, o que pode gerar menos reconhecimento da rede enquanto pesquisa de produção científica-social.
O projeto “Ações de enfrentamento à violência contra mulher na região dos Inconfidentes/MG” tem duração de um ano, mas a proposta é dar continuidade à RAMui. Atualmente, o grupo de pesquisa da rede é coordenado por Elaine Machado e por Elza Oliveira, da Escola de Farmácia (Efar), e conta com outras três professoras e um professor, além de bolsistas e voluntárias. Um grupo de estudos sobre desigualdade e gênero está sendo criado para incentivar o debate, com reuniões abertas para abordar temas relacionados a gênero e sexualidade.
Para acompanhar o andamento dos projetos e do grupo de estudos, acesse o Facebook da RAMui e do Programa Âmbar.
Você sabia?
- A violência contra a mulher não se resume apenas à violência física. Existem também a violência psicológica, que inclui ameaças, manipulação, perseguição e chantagens; a violência sexual, que se manifesta pela prática de relações sexuais sem consentimento, com o uso de força física; a violência patrimonial, onde o homem promove a destruição ou a retenção de objetos, documentos e bens; e a violência moral, relacionada à calúnia, à difamação ou à injúria.
- O Brasil faz parte de uma minoria de países que possuem uma legislação específica sobre proteção à mulher, como a Lei 11.340/2006, também conhecida como Lei Maria da Penha. Ela foi aprovada com o intuito de aumentar o rigor das punições às agressões contra as mulheres, possibilitando a figura do “flagrante” e a prisão preventiva, além de aumentar a pena e outras medidas protetoras.