Passados dois anos desde o primeiro caso confirmado de Covid-19 no Brasil, um novo horizonte parece se abrir quando avaliados os avanços da campanha de vacinação e o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em diversas localidades. A Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) retomou suas atividades presenciais em março deste ano e, embora mantenha medidas estabelecidas em seu
protocolo de biossegurança, como o uso de máscaras nas dependências na Universidade, o retorno representa um momento de muita expectativa e dúvidas quanto ao real estado da pandemia, aos verdadeiros efeitos da vacinação e aos comportamentos que ainda são necessários para evitar o contágio. Com novas descobertas sobre os efeitos prolongados da infecção pelo coronavírus, sub-variantes sendo identificadas por cientistas e anunciadas nos noticiários, há muito terreno para que surja insegurança e pânico.
Por isso, o "Em Discussão" desta semana conversa com o professor do Departamento de Análises Clínicas da Escola de Farmácia e pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas (Nupeb) da UFOP, Alexandre Barbosa Reis. Membro do
Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus da Universidade e convidado pela revista Vaccines para ser editor de um especial sobre Covid (New Insights of Clinical and Laboratory biomarkers in the Sars-CoV-2 Infection, including Long Covid syndrome and their consequences), o pesquisador esclarece sobre os riscos ainda existentes, explica o que é a Covid longa e comenta sobre diferentes tipos de vacina e o que deverá ser feito para enfrentar esta e futuras pandemias.
Professor Alexandre, com o retorno das atividades presenciais na Universidade e o consequente aumento da circulação de pessoas nos campi e nas cidades de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade, o que a comunidade acadêmica da UFOP deve ter em mente durante este período em que, mesmo com o avanço da vacinação e com um aparente recuo nos casos de Covid-19, há ainda o risco de transmissão do vírus?
O primeiro ponto que considero importante que a comunidade tenha em mente é que foi e está sendo um esforço enorme da UFOP, assim como para todas as instituições de ensino superior, sejam públicas, sejam privadas, retornar às atividades, e isso precisa ser levado em consideração. Acho que este é o momento de refletir esse esforço e respeitar as medidas preconizadas pela própria Instituição através dos seus órgãos que foram estabelecidos, como o Comitê de Enfrentamento, que faz as recomendações para o Comitê Gestor da pandemia dentro da UFOP. Foi feito um trabalho muito rigoroso para sair do ensino remoto, que ameniza um pouco os prejuízos, mas não resolve, em termos de qualidade e preparação — principalmente devido às aulas práticas e de campo — a pesquisa, o ensino, as atividades que acontecem de forma pulsante e ativa dentro dos campi da Universidade e o próprio desenvolvimento das relações interpessoais dentro do contexto do ensino superior. A gente sabe o quanto isso é importante na formação de um cidadão, na formação de um profissional, seja de qualquer área.
O segundo ponto é que a comunidade precisa saber também que, embora as vacinas de fato tenham sido uma conquista tão grande (desenvolvidas em tempo recorde e responsáveis por um impacto direto no combate à pandemia e na ocorrência de casos graves e óbitos), elas nem sempre vão proteger, e isso não ocorre só com a vacina da Covid, mas com a vacinação contra outras infecções. É importante que as pessoas entendam que essas vacinas ainda não foram capazes de impedir que a infecção ocorra.
Então, a infecção continua acontecendo, embora branda, com menos risco de internação e óbito, e por conta disso, somado ao fato de que o Brasil ainda não atingiu índices de vacinação acima de 90% da população total no país (nós estamos em 76% aproximadamente), nós ainda precisamos atingir índices maiores da população com vacinação completa, de preferência com a dose de reforço. Com isso, manter os cuidados parafarmacológicos (manter distanciamento em locais fechados, usar álcool em gel, lavar as mãos e usar máscaras de boa qualidade) ainda é fundamental. Precisamos entender que ao nos protegermos e ao termos um pouco mais de persistência, estaremos protegendo os nossos amigos e os nossos entes queridos.
Um dos pontos que geram mais dúvidas entre o público leigo diz respeito às variantes do coronavírus. Deltacron, XE e BA.2 são alguns dos nomes que vêm surgindo nos noticiários, variantes das mutações Delta e Ômicron que chegaram ao Brasil. Com tudo isso somado ao negacionismo científico, sobram questionamentos, inclusive quanto à periculosidade dessas variantes e à eficácia da vacinação. O que é preciso esclarecer quanto a essa questão do ponto de vista da ciência?
A Covid-19 veio em um momento bem peculiar, em que a rapidez da informação parece se espalhar mais que o vírus, e aí temos um excesso de informação, além de informações distorcidas, ruins e falsas. Nunca na história da humanidade foi possível acompanhar uma pandemia de vírus respiratório em tempo real, e isso é fascinante. Isso é pura ciência! Com os avanços de conhecimentos da genômica e de diversas ferramentas que nós já tínhamos em mãos, foi possível fazer coisas como sequenciar o vírus e disponibilizar o genoma para que pudessem ser trabalhadas vacinas ao redor do mundo. Essa vigilância genômica é fundamental para a gente acompanhar a dinâmica do vírus e a dinâmica da pandemia. Isso nos permite saber qual variante está preponderando ao redor do mundo (sabemos que agora é a Ômicron) e como essa dinâmica funcionava antes, durante e após a cobertura vacinal.
O que estamos vendo é que o Sars-CoV-2 está "perdendo" a capacidade de gerar novas variantes, ou seja, a velocidade de geração de variantes diminuiu após a cobertura vacinal. Agora, parece que estão sendo geradas mais sub-variantes, que são pequenas mutações que ocorrem em uma mesma variante. Isso pode estar sendo causado pela própria dinâmica da pandemia, em que temos um vírus respiratório que se espalhou mundialmente muito rápido. Embora algumas variantes prevaleçam pela alta capacidade de transmissibilidade, elas têm causado Covid leve, no máximo moderada em pessoas imunocompetentes. Então eu acho que o indivíduo leigo não tem que se preocupar com tantas informações de variantes e sub-variantes. Acho que, para esse público, o mais importante é saber que ainda não chegamos ao fim da pandemia, mas que estamos com certeza próximos desse fim.
Com o avanço nos ciclos de vacinação, o retorno das atividades presenciais em diversos contextos (universidades, empresas, eventos etc.), e o fim da obrigatoriedade do uso de máscara em muitos municípios, parece haver uma tendência ao relaxamento das medidas de prevenção não farmacológicas. Afinal, por que ainda não devemos abandonar tais medidas? É possível prever quando será possível abandoná-las definitivamente?
Essas medidas que estão ocorrendo no Brasil, no meu ponto de vista, têm um cunho político. Primeiro que há por parte da população uma saturação natural. A população se cansa do confinamento, do isolamento, e isso pesa. Somos uma sociedade capitalista, na qual é muito difícil manter economias fechadas, em lockdown. Tudo isso foi muito complexo no Brasil e no resto do mundo, à exceção da China. Até mesmo alguns países como a Coréia, a Austrália e a Nova Zelândia, que estavam com um trabalho excelente de combate e controle da pandemia, não sustentaram [o fechamento] por muito tempo, e hoje a gente vê que a China, com toda a política de Covid zero, está com Xangai e outros mega centros urbanos em lockdown, mas com inúmeros casos.
Então, isso tudo confunde, pois, de modo geral, o indivíduo que não tem conhecimento de vacinas e de vacinologia pensa "olha, eu tomei vacina, eu tô protegido". Esse entendimento é extremamente natural, entretanto eu acho que também foi falha dos meios de comunicação não informar que existem níveis de proteção para toda vacina, para que possamos atingir um controle e um ponto posterior, que é a erradicação. Para citar um exemplo, nós erradicamos a paralisia infantil, mas a vacina usada na campanha do "Zé Gotinha" não impede a infecção, isso ocorre por causa do processo de vacinação, o que nós chamamos de "imunidade de rebanho" e que pode demorar um ano, dez anos, vinte anos. Depende da infecção, da forma do vírus, de como ele se comporta no organismo, de como ocorre a transmissão. Tudo isso é difícil para um indivíduo leigo entender.
Mesmo com o avanço da vacinação, que tende a diminuir a hospitalização por casos graves da doença, o vírus e suas variantes continuam circulando. A Covid longa, doença crônica em que as sequelas da Covid-19 se prolongam mesmo após meses do contágio, é motivo de preocupação. Quais são as principais implicações da Covid longa? O que uma pessoa que apresenta apenas sintomas leves deve fazer para preservar sua saúde, haja vista a possibilidade de desenvolver a Covid longa?
Certamente a vacinação vai impactar a saúde individual e coletiva na Covid longa. Isso deve ser estudado nos próximos anos, mas eu imagino, enquanto pesquisador da área, que a vacinação venha a diminuir os impactos que geram a síndrome da Covid longa. Essa síndrome começou a ser observada pelos clínicos seis meses após a descoberta da Covid. A partir do momento em que houve pessoas que conseguiram se recuperar, começaram a ser vistas as consequências da infecção. A Covid longa pode causar vários danos que nós ainda estamos compreendendo. Relata-se mais recentemente que 40% das pessoas infectadas, mesmo nos casos assintomáticos ou leves, estão desenvolvendo diabetes tipo 2. É um número altíssimo! O diabete tipo 2 já é um problema de saúde pública. Imagina isso para os custos do estado! Há também as doenças cardiovasculares que podem surgir no pós-Covid ou na Covid longa, em que o indivíduo pode desencadear um processo de hipertensão, também um grave problema em termos de saúde pública. Há, ainda, perda de memória, de cognição, danos psicológicos como a depressão. Nós temos outros distúrbios metabólicos que estão sendo relatados e danos bioquímicos desenvolvidos no organismo em decorrência da Covid longa. A infecção é sistêmica. O vírus não afeta exclusivamente o pulmão. A Ômicron mostrou claramente a alta quantidade de infecção intestinal, pois as células intestinais possuem receptores de entrada para o vírus também, levando a quadros de diarréia intensa, de disfunção intestinal, o que também altera os processos metabólicos.
Já se fala em 4ª dose para a população a partir dos 70 anos. Existe previsão de quantas doses serão necessárias para que se complete um ciclo de imunização? Para os próximos anos, como as campanhas de vacinação deverão ser pensadas a fim de impedir uma reincidência do vírus e da mortalidade pelo contágio? Ainda faz sentido pensar em público-alvo diante do surgimento de novas variantes, inclusive entre partes da população, como as crianças, que antes não eram consideradas como um grupo de risco?
As vacinas são muito poderosas em evitar internações e óbitos, mas, reforçando, elas não evitam a infecção, e isso é um problema para os idosos e para os imunossuprimidos. Por isso que nós estamos reforçando a vacinação dessa população com a 4ª dose, e nós precisamos ampliar a faixa de pessoas que receberam a 3ª dose, que é a dose de reforço. Então, nós temos as crianças recebendo a 1ª dose, os adolescentes recebendo a 2ª, eles precisam receber a 3ª e nós precisamos ampliar o número de pessoas que vão receber a 4ª dose, pelo menos com o público acima de 50 anos. Lembrando que hoje a gente sabe que a proteção vacinal dura em torno de quatro a seis meses, algo com o qual teremos de lidar em termos de saúde pública.
O idoso tem um problema que a gente chama de imunossenescência, ou seja, o sistema imune envelhece. Uma vacina, que dura seis meses em um jovem, em uma pessoa de até 50 anos, vai durar bem menos em um idoso acima de 80. Isso faz com que nós, pesquisadores, possamos prever como serão as políticas de vacinação no mundo. É o que nós chamamos de farmacovigilância. As vacinas passaram pelos testes clínicos de fase um, dois e três, depois disso elas foram aprovadas nas agências reguladoras (no caso do Brasil é a Anvisa). Essas agências tornaram possível a campanha de vacinação e, na sequência, todas as empresas que desenvolveram as vacinas têm que ajudar a bancar os estudos de farmacovigilância, que são feitos, no caso do Brasil, pelo Ministério da Saúde. Esses estudos olham exatamente o que a gente chama, em termos imunológicos, de "memória vacinal", que é a capacidade que o organismo tem de desenvolver uma resposta efetora.
Nós sabemos que pessoas de idade mais baixa têm uma capacidade enorme de desenvolver uma resposta muito mais robusta do que os idosos em processos de vacinação, então talvez esse público nem vá precisar de uma 4ª dose. Esses estudos levam tempo, e esses primeiros resultados de como serão as campanhas de vacinação de Covid estão vindo agora. A gente supõe que elas vão ser anuais, entre uma e duas doses. Mas pode ser que para pessoas de determinada faixa etária seja preconizado que sejam duas doses, uma certamente ofertada no mesmo período da gripe e a outra provavelmente mais próximo do fim do ano, que é quando há um aumento na movimentação de pessoas (devido ao natal e ano novo). Isso tudo quem decide é um comitê de experts que assessora o Ministério da Saúde no Programa Nacional de Imunização (PNI) e que está acompanhando as resoluções ao redor do mundo e aqui no Brasil.
Diferentemente das vacinas injetáveis, que atuam impedindo o desenvolvimento de estágios graves da doença, o desenvolvimento de uma vacina de mucosa poderá atuar de maneira a impedir a infecção pelo vírus. Assim, será possível pensar em um fim definitivo para a pandemia de Covid-19?
Nós temos o exemplo da vacina da poliomielite, lá da campanha do "Zé Gotinha", que trata-se de uma vacina oral, sem injeção. No caso, por ser uma doença respiratória, em que a infecção ocorre pelas vias respiratórias, essas vacinas nasais são uma grande promessa, mas serão associadas, certamente, às outras vacinas, porque você precisa de uma imunidade sistêmica. Mas ela leva a uma imunidade local, fazendo com que essa mucosa (nasal, oral) seja protegida, criando uma barreira imunológica já na entrada e ajudando a combater a infecção. Então elas vão ampliar a proteção das vacinas que já existem.
A pandemia é decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), assim como o seu fim, e cabe a seus países signatários a seguirem ou não. De todo modo, a determinação do estado de emergência de cada país é monitorada e decretada pelos seus respectivos ministérios da saúde. Por exemplo, se o Ministério da Saúde do Brasil entender que devemos sair do estado de emergência e flexibilizar as ações de vigilância sanitária (a fiscalização em aeroportos, a organização do Sistema Único de Saúde, os recursos destinados, entre outros aspectos), ele sai do estado de emergência de pandemia e diz que estamos em estado de endemia. Então, uma pandemia não é erradicada rapidamente. É preciso controlá-la. As ferramentas de controle já existem: além das vacinas, há tratamentos que foram aprovados recentemente pela Anvisa, mas ainda não foram incorporados como política de saúde pública no Brasil.
Os indivíduos brasileiros que terão acesso às novas medicações que foram bem-sucedidas e que foram aprovadas serão um grupo muito restrito, aquele que vai poder pagar. Se o governo não tomar a decisão de incluir essas medicações no Sistema Único de Saúde, nós vamos ter um prejuízo enorme para a população geral, porque elas não são baratas e não serão acessíveis a grande parte da população. Do meu ponto de vista, há vários entendimentos para o fim da pandemia: há o entendimento sanitário, que é baseado em cálculos estatísticos e epidemiológicos, e aí a partir de um número de casos, do número de óbitos, de internações em cada país, em cada região, você sai de um estado de emergência de pandemia e entra em um estado de endemia; e há o entendimento antropológico, psicológico, que é elaborado, construído de forma coletiva a partir de uma série de aspectos, como a capacidade que a sociedade tem em tolerar número de mortos. Nós saímos de uma média móvel de três mil mortes ao dia para uma média de 200. Realmente, olhar por esse ângulo matemático nos leva à tolerabilidade desses números, e aí a mídia ajuda a construir esse pensamento coletivo de "já não aguento mais", que é algo que acontece principalmente nas economias capitalistas que pressionam para uma abertura.
Há especialistas que afirmam ser muito provável que uma nova pandemia aconteça no futuro, diante de diversos fatores como mudanças no ecossistema e até as atividades de tráfico de animais. Como lidar com uma nova situação na qual medidas de prevenção e distanciamento se mostrem novamente necessárias? O que é preciso para que a ciência possa desenvolver de forma cada vez mais eficaz seu trabalho para prevenção e cura de doenças infecciosas?
Que haverá próximas pandemias é fato, como a gente já sabia que essa pandemia ia acontecer. Quem estuda essa área de doenças infecciosas já previa uma pandemia. Com relação aos fatores que eu acho que exacerbam as possibilidades de uma pandemia, inclusive mais grave do que essa, tem a questão da própria globalização. O mundo chegou a um ponto em que, por mais que o globalismo e o nacionalismo ainda estejam se confrontando, não há como voltar, em termos de comércio e amplitude da globalização. De fato, um dos principais aspectos que eu considero são as mudanças climáticas, porque as causas e consequências da alteração do clima serão enormes. Vai alterar a oferta de alimentos, vai afetar processos migratórios humanos, e isso tudo vai gerar a circulação de animais e pessoas. Independentemente disso, guerras e conflitos aumentam o risco de pandemias, também em função de que elas geram movimentos migratórios.
A insegurança alimentar vulnerabiliza pessoas do ponto de vista imunológico, já que a desnutrição faz com que tenham um sistema imune enfraquecido, e com isso o risco de infecções com alto grau de mutação viral é enorme. Outros fatores também se somam à insegurança alimentar nesses casos. Esse foi o problema da Ômicron na África, onde havia uma cobertura vacinal muito baixa, um percentual de infecção de HIV enorme e uma política de tratamento da Aids ainda muito enfraquecida do ponto de vista da detecção e tratamento. Você tendo no mesmo território um núcleo populacional imunologicamente enfraquecido facilita o surgimento de uma mutação. A circulação de animais silvestres também, pois essas doenças, chamadas de enzootias, circulam nesses animais. Queimadas, desflorestamento, tudo isso são fatores que também geram um aumento do contato do ser humano com esses animais e os vírus que eles carregam. Ter uma vigilância genômica atenta, preparada e acionada, que é o que a Organização Mundial da Saúde está fazendo, vai ser fundamental daqui pra frente. Nós vamos ter certamente um controle maior no sentido de antecipar, prever o espalhamento e avisar as populações.
EM DISCUSSÃO - Esta seção é ocupada por uma entrevista, no formato pingue-pongue, realizada com um integrante da comunidade ufopiana. O espaço tem a função de divulgar as temáticas em pauta no universo acadêmico e trazer o ponto de vista de especialistas sobre assuntos relevantes para a sociedade.