As artes e a cultura foram alguns dos setores mais prejudicados neste período de pandemia. Na tentativa de continuar fomentando as produções artísticas e dar sequência às ações junto à comunidade, a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), por meio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, não parou, mesmo diante das dificuldades em função da necessidade do isolamento social.
Para conversar sobre questões envolvendo a extensão e a cultura na Universidade durante a pandemia, o "Em Discussão" traz o pró-reitor de Extensão e Cultura, professor Marcos Eduardo Carvalho Gonçalves Knupp. Ele conta como foi possível manter a segurança de todos os envolvidos nas ações — as equipes da UFOP e as comunidades parceiras — e ressalta que a gestão administrativa e o apoio à condução das ações de extensão e cultura realizadas pela UFOP têm sido fundamentais neste período.
Marcos debate, ainda, os impactos dos cortes para as universidades que afetam a extensão e a cultura, a alteração no organograma, que inclui a "cultura" na Pró-Reitoria, e as expectativas, com cautela, para o retorno presencial, que vai contribuir com a minimização das perdas.
Professor Marcos, parte essencial do trabalho da Proex é o envolvimento com a comunidade. Quais estratégias estão sendo utilizadas pela Pró-Reitoria para dar continuidade às ações da extensão enquanto o distanciamento social é demandado para manter a saúde de todos?
As estratégias realizadas vão no sentido de manter a segurança de todos os envolvidos nas ações de extensão e cultura, equipes da UFOP e comunidades parceiras, assegurando o distanciamento, além de resguardar o trabalho realizado ao longo dos anos pela comunidade universitária. Sendo assim, no momento inicial da pandemia, em março de 2020, foi aberta a possibilidade de readequação dos Planos de Trabalhos das ações para que as atividades acontecessem de modo remoto. Essa decisão teve embasamento nas discussões e informações disseminadas pelos órgãos de saúde, sendo readequadas à realidade das atividades de extensão realizadas junto às comunidades. Na sequência, as discussões feitas junto aos fóruns de extensão, regionais e nacional, demonstraram que a decisão da Proex foi acertada, sendo também seguida pelas outras diversas instituições de ensino, a fim de não prejudicar o andamento das atividades de extensão realizadas em todo o território brasileiro.
No entanto, sabe-se que com o formato remoto existe uma perda significativa, uma vez que nem todas as comunidades possuem acessibilidade às tecnologias de informação necessárias ao desenvolvimento das atividades remotas. Portanto, não foi possível reparar essa perda de maneira imediata, o que fez com que as ações se reinventassem a cada dia durante a pandemia. A Proex sempre esteve atenta e se prontificou a dialogar com as equipes dos projetos e com as comunidades envolvidas, elaborando diagnósticos junto à comunidade universitária para compreender as dificuldades enfrentadas neste contexto e realizar atividades para minimizar os problemas ocasionados pelo formato remoto. Assim, foram elaboradas cartilhas, vídeos informativos e realizadas conversas sobre como as atividades poderiam explorar o vasto campo das telecomunicações, mídias sociais, internet etc., a fim de não somente atingir o público, mas também engajar as comunidades nas atividades de extensão realizadas pela UFOP.
A Proex está atenta, desde os primeiros meses da pandemia, ao fato de que precisamos acionar e fomentar produções artísticas. A Mostra Multi é um evento criado para produção e compartilhamento de obras, que se caracterizou como sendo um espaço virtual, aberto para a produção artística e cultural da comunidade acadêmica. A fruição artística nos permite a ampliação de nossa percepção de mundo e a Cultura é inerente à ação humana e seu fundamento simbólico está sempre presente na prática social, na construção da nossa identidade e no nosso entendimento enquanto sujeitos. Por tudo isso, nosso compromisso é com a garantia dos direitos culturais, e não desviaremos nossa atenção nem nossa vontade para a promoção da Cultura na UFOP. Nesta direção, as Artes vêm sendo, durante a pandemia e em nossa realidade política, o dispositivo necessário para usufruirmos e construirmos ideias progressistas. Toda criação artística nos permite uma reflexão, enxergar o entorno de outra forma, com o olhar mais crítico. Há uma frase atribuída ao crítico de arte Mário Pedrosa que diz assim: "em tempo de crise, fique do lado dos artistas".
Quais foram as conquistas para a Pró-Reitoria, para a UFOP e para a comunidade em relação à cultura e à extensão neste período de pandemia?
Desde janeiro de 2020 nos empenhamos na elaboração de um planejamento estratégico para garantir políticas institucionais para a promoção da cultura. O lançamento do edital de figurinos e cenários; a produção de uma mostra virtual com trabalhos artísticos da comunidade acadêmica (Mostra Multi); a criação da Rede de Museus e Acervos da UFOP; a realização da Semana de Extensão e Comunicação; a elaboração e aprovação da Política Cultural da UFOP; a identificação dos Agentes Culturais da UFOP; a criação do Programa de Fomento à Cultura da UFOP (PIFCULT); a mobilização da comunidade acadêmica para a construção do Plano de Cultura e a aprovação do Auxílio Financeiro ao Pesquisador Extensionista, no âmbito do Programa de Incremento das Ações de Extensão e Cultura da UFOP, são alguns exemplos de processos dedicados à cultura. Todas as ações têm como objetivo contribuir para o desenvolvimento institucional por meio da democratização da cultura, da fruição de diferentes linguagens artísticas para a formação de público. Nesse sentido, toda a comunidade ganha com a garantia dos processos de fomento à cultura.
2021 foi o segundo ano da pandemia e, mesmo com as dificuldades, veio com a bagagem adquirida em 2020, quando a UFOP entrou forçadamente em trabalho remoto. Qual aprendizado de 2020 pôde ser aplicado em 2021 para melhorar a atuação da Proex?
São vários os fatores que compuseram o aprendizado da Proex a fim de melhorar sua atuação em 2021. Destacamos dois grupos: gestão administrativa e apoio às conduções das ações de extensão e cultura realizadas pela UFOP. Em relação ao primeiro, já no planejamento do setor foi considerada a atividade remota como o formato de trabalho, buscando de maneira tática e operacional o desenvolvimento de mecanismos que pudessem amparar a equipe da Proex a realizar os trabalhos de maneira fluida e positiva, atingindo as metas desenhadas para 2021. O acompanhamento por meio de planos de trabalhos individuais que dessem subsídio às metas setoriais de cada coordenadoria, espelhadas nas metas gerais da Proex e do PDI da UFOP. Essa foi uma decisão acertada, e o trabalho desenvolvido pela equipe da Proex atingiu mais de 90% das metas de 2021. No que diz respeito ao apoio e acompanhamento das ações, haja vista o diagnóstico e as conversas realizadas pela Proex junto aos diversos setores da UFOP e às equipes das ações de extensão e cultura, há que se destacar o redesenho dos editais de registro, apoio e fomento às ações, além do fornecimento de novas ferramentas informacionais e de aprendizagem para que as ações pudessem desenvolver a contento as atividades de maneira remota.
2021 também trouxe uma mudança significativa para a Pró-Reitoria, com a alteração no organograma. Além do nome, que passou a incluir "Cultura", o que mudou? Na prática, que melhorias essas mudanças trouxeram para a equipe e para a comunidade atendida pelos projetos da UFOP?
O acréscimo da Cultura ao nome da Pró-Reitoria trouxe o reconhecimento de sua vocação: garantir os direitos culturais e fortalecer a cultura da UFOP em suas dimensões simbólica, econômica e cidadã. Além disso, nos oportunizou criar a Coordenadoria de Cultura da Proex, que tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento institucional da UFOP, por meio da democratização do acesso a espetáculos e outras expressões artísticas, bem como pela valorização das manifestações culturais locais e pelo fortalecimento da economia da cultura na região. Além disso, a UFOP passa a assumir seu protagonismo cultural em importantes fóruns nacionais da área cultural, como integrante do grupo de trabalho "Museus Universitários da Andifes" e coordenando o grupo de trabalho "Parcerias Interinstitucionais" do Fórum Nacional de Gestão Cultural das Instituições de Ensino Superior (Forcult). Buscamos uma gestão cultural universitária pautada na transversalidade da cultura nas ações de ensino, pesquisa e extensão, assim como nos diversos campos de conhecimento.
A UFOP, assim como outras universidades federais, tem sofrido cortes de orçamento cada vez mais significativos. Como esses cortes podem afetar as ações de extensão e cultura em 2022?
Essa é uma questão bastante sensível, principalmente para a extensão. Dentro das atividades fins, o ensino é a que possui e necessita de maior investimento, pois é a ponta mais visível e que dá a sustentação de todo o funcionamento e razão de ser das Instituições de Ensino Superior (IES). A extensão e a pesquisa compõem esse tripé constitucional, impactando de maneira considerável e fundamentada a formação dos discentes. No entanto, a pesquisa possui órgãos de financiamento que extrapolam as instituições de origem, ou seja, possuem agências de fomento, nacional e estaduais, que podem subsidiar parte das atividades realizadas pela comunidade universitária, além de ter uma entrada na iniciativa privada muito mais próxima do que a extensão universitária. Esta última depende primordialmente do investimento da instituição de origem, ou seja, do orçamento das IES, por isso esses cortes podem afetar significativamente o desenvolvimento das atividades de extensão, por serem muito dependentes desse orçamento interno. A cultura também pode ser afetada. Mesmo que existam outras possibilidades de captação de recursos externos, via leis de incentivo ou patrocínios privados diretos, ainda assim existe uma redução de investimento em cultura no país, tanto dos governos federal e estadual como da iniciativa privada, fazendo com que as atividades culturais desenvolvidas pelas IES também dependam significativamente de seus orçamentos internos.
Entramos em 2022 com a perspectiva do retorno presencial em março. O que a Proex planeja para o retorno? Podemos esperar uma ampliação do atendimento à comunidade e dos projetos ou o retorno vai ser gradual e levar um tempo para atender a todos?
O planejamento do retorno presencial é visto como um estímulo à nossa comunidade extensionista, pois sabe-se das mazelas e das necessidades que as comunidades parceiras têm sofrido em meio a essa pandemia. O "acalento" (acolhimento) das atividades de extensão e cultura realizadas mesmo no contexto pandêmico contribuiu de maneira significativa para amenizar as perdas e as dificuldades sofridas pela população brasileira, indo ao encontro do enfrentamento direto à pandemia. Com o retorno é necessário manter as ações focadas no contexto pós-pandêmico para subsidiar atividades que contribuam com a minimização das perdas ocasionadas pela pandemia. A Proex já redesenhou seus editais de registro e fomento a fim de empenhar esforços para a esperada ampliação das atividades de extensão em diálogo com as comunidades, bem como para manter a participação e o diálogo com a comunidade interna nas decisões sobre o desenvolvimento da extensão e da cultura na UFOP. Esse aumento, apesar de esperado, é visto com muita cautela, pois a segurança das equipes e das comunidades continua sendo prioridade para a Proex.
EM DISCUSSÃO - Esta seção é ocupada por uma entrevista, no formato pingue-pongue, realizada com um integrante da comunidade ufopiana. O espaço tem a função de divulgar as temáticas em pauta no universo acadêmico e trazer o ponto de vista de especialistas sobre assuntos relevantes para a sociedade.