Com o tema "Diálogos com os Sertões das Gerais", uma homenagem às Cavalhadas de Amarantina, distrito ouro-pretano, e comemorando os 50 anos da Universidade Federal de Ouro Preto, o Festival de Inverno de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade completa 52 anos. A solenidade de abertura aconteceu na Casa da Ópera, em Ouro Preto, e o discurso das autoridades presentes foi, essencialmente, relacionado ao êxito em seguir com as atividades apesar dos cortes orçamentários enfrentados pelas universidades e instituições públicas brasileiras. Atualmente, a UFOP está com 30% do orçamento anual bloqueado. Isso representa uma perda de R$ 20,8 milhões dos R$ 65,6 milhões disponíveis para despesas de manutenção e investimento.
Presente na cerimônia, a reitora da UFOP, Cláudia Marliére, traçou o histórico político e cultural do Festival. A primeira edição aconteceu em 1967, envolvendo grupos de artistas e movimentos culturais em um momento conturbado da democracia brasileira. "Naquele ano, o Festival surgiu para potencializar o valor dado à arte e à educação. Em 2019, o propósito permanece o mesmo", afirmou.
Pela primeira vez aprovado como projeto de extensão, o Festival leva agora, também de forma inédita, o nome de João Monlevade. Além disso, esta nova configuração tenta articular as expressões artísticas e culturais dos distritos e bairros periféricos de Ouro Preto e Mariana. Para o Pró-Reitor de Extensão da UFOP, Marcos Knupp, isso mostra o potencial acadêmico da Universidade. "Muito se discutiu sobre a possibilidade da realização do Festival deste ano, porém, cientes de nossa responsabilidade pelas cidades que nos acolhem há cinquenta anos, creio que organizamos um dos nossos melhores festivais", ressaltou.
Para ele, sem o apoio das prefeituras de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade — cidades que acolhem os campi UFOP —, da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop) e dos empresários locais, seria inviável realizar um evento desta magnitude. Cláudia Marliére reitera essa fala, definindo o Festival como um "empreendimento exitoso entre a Universidade e a população".
Reafirmando o papel social da Universidade de formar cidadãos, o secretário de Cultura, Patrimônio Histórico, Turismo, Esportes e Lazer de Mariana, Imair Rocha, iniciou seu discurso parabenizando as partes envolvidas na construção de um Festival voltado para a história do povo. "Nosso congado, nossas folias e expressões culturais por vezes podem ser maiores que a história registrada. Uma nação que respeita sua história, cultura e, principalmente, sua educação, alicerça seu passado ao presente, possibilitando construir um futuro melhor", pontuou. Neste mesmo sentido, o prefeito de Ouro Preto e ex-aluno da UFOP, Júlio Pimenta, agradeceu às autoridades presentes e desejou vida longa ao Festival de Inverno e à parceria entre a Universidade e as prefeituras de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade.
JOÃO MONLEVADE – Pela primeira vez o Festival de Inverno traz o nome de João Monlevade. Em 2002, a Universidade Federal de Ouro Preto passou por seu primeiro processo de ampliação e João Monlevade passou a abrigar o Instituto de Ciências Exatas Aplicadas (Icea), que oferece os cursos de Engenharia de Produção, Sistemas de Informação, Engenharia de Computação e Engenharia Elétrica. Professora de matemática e diretora do Instituto, Anliy Sargeant explica sobre a urgência em levar um evento artístico e cultural para um campus de ciências exatas e aplicadas. Para ela, "se trabalharmos apenas para o crescimento tecnológico, corremos o risco de gerar novas exclusões sociais. Somos seres humanos e precisamos da arte e da cultura para nos transformarmos em pessoas melhores". Ela falou também sobre o trabalho contínuo dedicado a levar o evento para João Monlevade. Por fim, agradeceu a consideração e o apoio da administração central da UFOP e declarou sentir-se feliz em fazer parte "de uma história muito bonita que se inicia para a cidade".
AS CAVALHADAS – Recontadas anualmente, as histórias das cavalhadas narram a batalha que se inicia quando tropas cristãs invadem o território mouro e sequestram a princesa Floripes, filha do Almirante Balão. Em Amarantina, a celebração de cunho religioso é Patrimônio Cultural Imaterial, registrado em 2011, e demonstra sua força ao permanecer entre as comemorações tradicionais das famílias amarantinenses. Com mais de 260 anos de história, tempo contado a partir da inauguração da Igreja de São Gonçalo, em 1758, as festas de São Gonçalo e Cavalhadas de Amarantina acontecem entre os dias 13 e 17 de setembro, no distrito de mesmo nome, na cidade de Ouro Preto.