Criado por Carol Antunes em dom, 17/07/2016 - 17:46 | Editado por Lígia Souza há 8 anos.
O cômodo tem as paredes brancas, em contraste respingos marrons. Parece tudo quase limpo, já se passou tanto, não é mesmo? 5 de novembro de 2015 parece há décadas. Só que não. Os resquícios estão ali, em cada gota de lama silenciosa colocada na exposição que integrou a programação do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana de 2016: “Terra Prometida”. A lama não é verdadeira, os ecos são.
Uma mesa montada - prato, garfo e faca. Um liquidificador traz a mistura de dor e perdas. Gaiolas sem os pássaros. Um desenho tampado do que costumava ser o subdistrito. Caminhão em miniatura que carrega minério e um rivotril - a metáfora perfeita. Cada obra teve seu foco em uma questão da tragédia: a saudade, a destruição, o soterramento etc. Cada um abre margem para significados e os visitantes têm o papel de interpretar.
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Rachel Falcão é uma das artistas e destaca que principal objetivo da exposição é que o assunto continue em pauta. Ela e mais 11 artistas (Ana Célia Teixeira, Ana Fátima Carvalho, Antônio de Araújo, Azor Borges, Bárbara Mól, Ivi Martins, João Pedro Zuccolotto, Poliana Reis, Raquel Prazeres, Regiane Espírito Santo e Ricardo Macêdo), dentre eles profissionais e dois alunos do Núcleo de Arte da Faop, sentiram a necessidade, como cidadãos e como artistas, de se manifestarem sobre a tragédia. “Era uma coisa que estava na cabeça de todo mundo, todo mundo querendo falar alguma coisa a respeito”, afirma a artista. Eles se juntaram e acharam que o Festival de Inverno — o primeiro depois do rompimento da barragem — seria o evento ideal para expor. Apesar de a maioria dos artistas trabalharem na Faop, a iniciativa foi autônoma.
Outra possibilidade da exposição traz o desejo que os artistas tinham de mostrar outras linguagens plásticas, para além das tradicionais. Os materiais e tipos de obras são extensos, dentre eles pinturas, bordados, instalações, gravações etc. “É um tema pesado mas ao mesmo tempo é uma exposição leve e interessava pra gente discutir e mostrar outras possibilidades plásticas”, comenta Rachel.
O nome da exposição incita vários significados. Rachel explica que “Terra Prometida” pode ser pensado pelo lado bíblico e religioso, que é um significado positivo, mas que nessa situação se tornou negativo. “Como era uma tragédia anunciada, as medidas não foram tomadas. Virou uma terra prometida e ameaçadora para as pessoas que moravam ali. A gente tentou trabalhar com todas essas leituras possíveis. E tem ainda a terra prometida do novo Bento, novo local onde essas pessoas vão se instalar”, explica.
O número de visitantes foi alto. Até a sexta-feira (15/07), 500 pessoas assinaram o caderno. Rachel salienta que essa é uma estimativa porque muita gente não assina. A artista conta que eles querem levar a exposição para Mariana e depois, ainda, sair com ela para outros lugares.
O Festival já terminou, mas a exposição fica até 30 de julho, na Sala Direita do Museu Casa dos Contos (Rua São José, 12. Centro – Ouro Preto). Segunda-feira de 14h às 18h; terça a sábado de 10h às 17h e domingo de 10h às 15h. Entrada franca.