Criado por Patrícia Pereira em qui, 06/06/2019 - 10:15 | Editado por Patrícia Pereira há 5 anos.
Considerado nutritivo e sustentável por pesquisadores e empreendedores, o grilo preto (Gryllus assimilis) foi objeto de uma pesquisa na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). A dissertação do estudante Rafael Ribeiro Soares Araújo, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (CBIOL/Nupeb), sob orientação do professor Marcelo Eustáquio Silva, avaliou a qualidade química e biológica da farinha do grilo suplementada com farelo de trigo e metionina (aminoácido), por meio da análise de parâmetros nutricionais e bioquímicos em ensaios com animais jovens.
De acordo com o estudante, estimativas para as próximas décadas indicam que a indústria de alimentos precisará aumentar a produção de proteína animal para suprir a demanda por fontes proteicas. Os custos decorrentes desse aumento, conforme Rafael podem gerar impactos ambientais significativos.
Nesse sentido, para alguns pesquisadores, tornou-se fundamental a identificação de fontes alimentares proteicas com baixo custo de produção e métodos alternativos, como o uso de insetos na alimentação de humanos e animais, a fim de suprir a crescente demanda por alimentos com alto conteúdo proteico e de produção sustentável. Essa alternativa sustentável é mencionada em um documento lançado em 2013 pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Segundo dados da FAO, cerca de dois bilhões de pessoas em todo o mundo já suplementam suas dietas com insetos, que apresentam um elevado conteúdo de macro e micronutrientes. A prática é denominada entomofagia.
A PESQUISA - Com o intuito de contribuir para esse novo cenário, o mestrando realizou ensaios biológicos para analisar a qualidade das fontes proteicas e a composição química do farelo do grilo preto criado no Brasil, bem como o efeito de sua suplementação com metionina e farelo de trigo (rico em metionina e baixo custo). Foram utilizados 72 ratos machos, da linhagem Fischer, recém-desmamados, com 21 a 23 dias de idade, provenientes do laboratório de Nutrição Experimental da Escola de Nutrição (Enut) da UFOP. Já os grilos, segundo Rafael, foram adquiridos da empresa Insetos Brasil – Alimentos Proteicos, localizada em Recife (PE), que comercializa os insetos para alimentação de pássaros e animais exóticos.
Nos ensaios, os roedores foram alimentados com dietas isoproteicas e isocalóricas, contendo o farelo de grilo preto como única fonte de proteína. Além disso, uma dieta aproteica (livre de nitrogênio e isenta de proteínas) foi utilizada. Pela metodologia aplicada, os animais foram divididos em grupos. Cada grupo recebeu um tipo de alimentação: à base de caseína, isenta de proteínas, com farinha do grilo preto, com farinha do grilo preto e metionina, e com farinha do grilo preto adicionada ao farelo de trigo. Os animais foram acompanhados durante 14 dias.
Em outro experimento, foram utilizados 32 animais e mantidas as divisões dos grupos experimentais, exceto o grupo da dieta aproteica, que foi excluído. Esses animais foram acompanhados por 28 dias.
Foram observados o crescimento dos animais, o aproveitamento e o percentual de proteínas absorvidas pelo organismo, entre outros aspectos. 11.jpg
Segundo o pesquisador, esses resultados são mais expressivos ainda quando comparamos os grilos a alimentos básicos na alimentação brasileira como, por exemplo, o arroz (6,29%) e feijão (19,37%), respectivamente.
Observou-se, portanto, que a farinha do grilo preto é um alimento com bom valor nutricional e com (elevado) valor proteico, embora de baixo valor bilogico, podendo ser incorporada à alimentação humana e animal. Um dos maiores entraves para que ocorra a expansão da utilização de insetos na alimentação é o fato de que esses animais ainda não foram incluídos na legislação alimentícia de alguns países, como o Brasil.
Entretanto, no país, além das tradições de alguns grupos sociais que se alimentam de outros insetos, existem também startups que diversificam o mercado de alimentação por meio do uso da proteína de insetos na alimentação humana, utilizando farinhas proteicas, barrinhas de cereais e snacks a base da proteína de grilo.
O estudo foi realizado nos laboratórios Multiusuário, Bromatologia e Nutrição Experimental, todos da Enut. Ao final dos experimentos, os animais foram anestesiados e eutanasiados.