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Pesquisa investiga sentidos movimentados por imagem de Capela após 5 anos do rompimento da barragem

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Arquivo da autora
"Uma capela que resiste em meio à destruição promovida pela passagem de um mar de lama". Segundo pesquisadora em Comunicação, essa é uma das principais imagens que referenciam o rompimento da Barragem do Fundão desde 5 de novembro de 2015.
 
Naquela tarde de quinta-feira, cerca de 45 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram despejados no meio ambiente, soterrando os subdistritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, em Mariana. Na época, o presidente da Fundação Renova, Roberto Waack, comparou a quantidade de lama do montante ao volume do morro Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Seguindo o curso dos rios Gualaxo do Norte, Carmo e Doce, o rastro de destruição percorreu ao todo 663,2 km até chegar, enfim, ao litoral do Espírito Santo.
 
Na dissertação defendida pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFOP, Tamara Marques afirma que as marcas da passagem da lama na Capela de Santo Antônio, em Paracatu de Baixo, denunciam a disputa narrativa sobre o crime socioambiental cometido pela brasileira Vale e pela angloaustraliana BHP Billiton.
 
Para Tamara, com a estrutura física intacta e a paisagem ao redor encoberta pela lama, a Capela se torna indicativo de um passado que não existe mais e aponta para as perspectivas de um futuro moldado a partir do trauma. De acordo com a pesquisadora, "essa nova configuração passa a chamar a atenção de agentes sociais distantes da realidade do subdistrito que, então, iniciam o processo de tombamento da igreja, excluindo — contraditoriamente — os anseios dos antigos moradores". 

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Arquivo pessoal
Antes da tragédia, a igreja era cenário da tradicional Folia de Reis

A inventariação da Capela, batizada com o nome do padroeiro da comunidade, teve início em 2016, quando o Conselho de Patrimônio de Mariana (Compat) decretou o tombamento provisório das áreas atingidas de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. Segundo definição do Iphan, o tombamento pode ser entendido como instrumento de reconhecimento e proteção do patrimônio vinculado a fatos memoráveis da história do Brasil, e pode ser feito pela administração federal, estadual ou municipal.
 
Entretanto, foram as discussões empreendidas pelo Conselho, apuradas em pesquisa documental às atas registradas, que apresentaram à comunidade a importância da preservação das marcas da lama na edificação, ainda que não fosse esse o entendimento inicial dos ex-moradores escutados. Entre 2016 e 2018, uma pequena parcela de moradores de Paracatu compareceu a apenas nove reuniões do Compat — contudo, nenhuma delas tratou diretamente sobre o processo de tombamento. Nesse sentido, Tamara pontua que "a população não perdeu o templo devido à passagem da lama, mas perdeu a autonomia na tomada de decisão em relação ao seu uso e, inclusive, sobre destinações futuras da Capela".
 
"O valor atribuído pela comunidade de Paracatu por si só não foi suficiente, no passado, para atrair os olhares dos agentes oficiais do patrimônio cultural do município de Mariana", avalia. O que prevalece, portanto, é a narrativa política institucional. E o que vale é a memória da tragédia.
 
Finalmente, o estudo permite afirmar que o processo de patrimonialização da capela se torna, assim, a materialização da alteração dos sentidos sobre o templo: houve um processo de ressignificação oficial pelos agentes políticos e institucionais que agora fazem parte daquele contexto. "Precisamos esperar que as instituições estejam a serviço da comunidade, que precisa ter assegurado e respeitado o direito de escolher a memória que deseja guardar, e como ela seguirá representada para as gerações futuras", conclui a autora.
 
Leia a dissertação "De realidade fraturada a patrimônio cultural: um estudo sobre os sentidos contidos no processo de patrimonialização da Capela de Santo Antônio em Paracatu de Baixo" no repositório da Universidade Federal de Ouro Preto. 

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