O estudo, que comprova que a capa de bactérias presente na pele dos anfíbios tem efeito protetor, foi coordenado pelo professor Leandro Moreira e contou com a colaboração da doutoranda Isabella Cordeiro, ambos do Departamento de Ciências Biológicas (DECBI) da UFOP.
As pesquisas se iniciaram a partir de uma inquietação pessoal de Leandro, que ao chegar à Universidade, notou a abundância de anfíbios em áreas próximas ao Campus Morro do Cruzeiro, apesar da presença elevada de arsênio nos solos e águas da região do chamado Quadrilátero Ferrífero, onde se localiza a cidade de Ouro Preto.
Inicialmente, foi desenvolvido um outro estudo, publicado na Herpetology Notes, que trouxe avanços significativos na compreensão da resistência ao arsênio em microrganismos da pele de rãs. Conduzido na Estação Ecológica Tripuí, a pesquisa investigou como microrganismos presentes na pele das rãs se adaptam a ambientes contaminados por arsênio, um problema ambiental crescente na região devido à mineração intensiva. Foram isoladas 328 cepas bacterianas de 21 rãs pertencentes a 7 espécies diferentes, revelando uma correlação importante entre a resistência bacteriana ao arsênio e a dependência aquática das rãs.
Os resultados indicaram que rãs com maior tempo de permanência em ambientes aquáticos, como as espécies Boana faber e Ololygon luizotavioi, demonstraram maior resistência ao arsênio e uma capacidade superior de produção de biofilmes, que oferecem proteção adicional contra contaminantes. Essas descobertas evidenciam a adaptação da microbiota cutânea das rãs a condições ambientais adversas e estabelecem a base para futuras pesquisas aprofundadas. Além disso, sugerem um potencial biotecnológico significativo para o desenvolvimento de tecnologias de remediação de arsênio, sublinhando a relevância de estudar as interações entre microrganismos e contaminantes ambientais para a conservação e a inovação científica.
Uma vez finalizado o trabalho inicial, já em outra oportunidade, os pesquisadores compararam a microbiota da pele de anfíbios de áreas contaminadas com arsênio com a da pele de anfíbios de áreas não contaminadas. Para isso, recolheram amostras de pele de diferentes espécies de anfíbios e realizaram experimentos, aplicando nelas bactérias tolerantes ao arsênio. As análises mostraram que apenas as peles revestidas com bactérias da região contaminada bloqueavam a passagem do material.
Foi observado também que as bactérias do experimento proliferaram na solução contida em tubo de ensaio, o que pode significar que estejam adaptadas a tirar vantagem do elemento químico, obtendo energia a partir do processamento desse composto. Em outras regiões do mundo contaminadas por metais e semimetais pesados, pesticidas, herbicidas e outros tipos de poluentes, já foram feitos estudos sobre a composição e a tolerância das bactérias da microbiota cutânea de anfíbios, mas, segundo os autores, ninguém havia avaliado ainda o papel das bactérias na permeabilidade da pele em relação aos contaminantes.
Segundo Leandro, a conclusão obtida é de extrema importância, "já que demonstra, pela primeira vez, que nesta região com elevado grau de contaminação por metais e metalóides, a sobrevivência por parte dos anfíbios é decorrente, dentre outros processos evolutivos, da presença de uma microbiota especializada associada ao tecido epitelial destes animais, que de alguma forma reduz a permeabilidade e, portanto, os efeitos danosos desses contaminantes químicos".