A palestra "Virginia Woolf como uma pesquisadora", organizada pelo Programa de Pós-Graduação em Letras (Posletras) da UFOP, foi ministrada pela professora Jeanne Dubino, especialista em Literaturas em Inglês, Estudos Globais e Estudos Animais da Appalachian State University, da Carolina do Norte (EUA). O evento foi realizado na última segunda-feira (15), no ICHS, e contou com tradução consecutiva da professora do Departamento de Letras Maria Rita Drumond.
Jeanne apresentou excertos de seis capítulos da obra "Um teto todo seu", de Virginia Woolf, a fim de analisar como a técnica da autora pode ajudar os pesquisadores da área de Letras em seus estudos. Para isso, evidenciou componentes da prática de pesquisa da escritora e os obstáculos que as mulheres enfrentavam ao fazer pesquisa na época.
A professora contou que o que mais lhe interessa na obra da autora são os ensaios — e foram mais de 5 mil escritos durante sua vida. Afirmou também que, para realizar essa análise, desconsiderou que Woolf tenha dito que não deveria ser imaginada como a narradora desses textos. Para ela, a autora é sim a voz por trás dos ensaios.
Jeanne disse ainda que vê "Um teto todo seu" como um livro sobre como fazer pesquisa, que permite entender como a ensaísta modelava sua pesquisa. Além disso, falou sobre a relação entre as mulheres e a literatura, tópico bastante presente nos livros de Virginia Woolf.
A partir de uma frase de Woolf, a professora explicou o cenário da pesquisa na época: "Uma mulher precisa ter dinheiro e um quarto próprio, se quiser escrever literatura". Segundo ela, Virginia Woolf havia constatado, em uma visita a Oxford e Cambridge, como havia mais subsídios destinados a homens do que a mulheres.
"Ela queria ver com seus próprios olhos os corredores das universidades, contudo, sua busca pelo conhecimento foi barrada, já que a impediram de adentrar a biblioteca, tendo em vista que só permitiam a entrada de mulheres acompanhadas por um membro da faculdade", conta.
Na sequência, a professora mostrou como, em um outro capítulo do livro, depois de uma visita bem sucedida à Biblioteca Britânica, a autora conta o quão sobrecarregada ficou com tanta informação, além de questionar a quantidade de livros escritos por mulheres e homens. Nessa passagem, ela também relata como era difícil, sendo mulher, fazer pesquisa em um mundo patriarcal e como foi menosprezada até mesmo pelos próprios amigos.
Para Woolf, o entendimento de que o gênero feminino era o "sexo protegido" impedia que as mulheres tivessem acesso a uma experiência própria de fazer pesquisa e literatura. Jeanne concorda e, quase um século depois da publicação de "Um teto todo seu", ainda acha que este pode ser um problema. "Você precisa ter uma vivência sem proteção para testemunhar a vida diariamente de uma forma subjetiva e única", diz.
Em seguida, a pesquisadora mostrou o quanto a frustração de Woolf gerou mais pesquisas e pensamentos especulativos sobre as condições vivenciadas pelas mulheres em sua época. Como exemplo, mencionou a utilização de subterfúgios pela autor ao narrar a história de duas mulheres amantes, assunto que era tabu na literatura.
A professora Maria Rita aproveitou o momento para falar sobre a existência de livros banidos na literatura e como a censura ainda é atual. "A gente sabe que a censura está aí até hoje, pode não ser estatal, mas está dentro das escolas e de vários lugares", enfatizou.
Jeanne Dubino finalizou sua apresentação com algumas dicas de como realizar uma pesquisa mais centrada e efetiva. Para ela, é importante que o pesquisador possua um senso de perspectiva em relação ao mundo, que tenha consciência de que o mundo é muito mais amplo. A professora falou, ainda, sobre a técnica de pesquisa que utiliza com seus alunos, chamada "threesearch", uma pesquisa realizada em três partes: "Primeiro, você busca seu interesse pessoal; segundo, você vai à biblioteca; e terceiro, você realiza entrevistas com pessoas que sabem sobre o assunto". Ela ressaltou também que, na busca de tópicos para a pesquisa, é importante que o pesquisador avalie sua conexão com os temas, pois "é muito fácil perder o interesse na pesquisa se ela é sobre algo que você não gosta". Por fim, falou sobre a importância do esqueleto da pesquisa e salientou que os estudantes não devem se ater somente aos métodos tradicionais de pesquisa.
Nesta sexta (19), a professora Jeanne Dubino realiza a conferência "O que são os estudos animais na literatura?", na Casa de Cultura, em Mariana.