O Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (Icsa) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) sediou o 5° Encontro Regional por um Novo Modelo de Mineração e a 5ª Jornada Universitária de Debate na Mineração, promovidos pela Frente de Luta pela Autonomia e Meio Ambiente (Flama-MG). A professora Kathiuça Bertollo, do Departamento de Serviço Social da UFOP, participou da organização do evento, que teve duração de três dias e incluiu em sua programação mesas-redondas e minicurso, além da apresentação do documentário "Garimpo".
A Flama-MG é apoiada por 32 instituições e organizações e visa não apenas reivindicar novos modelos de mineração, mas também discutir novos modelos de sociedade. A mesa de abertura aconteceu na segunda-feira (6) e contou com diversos apoiadores da Frente, como movimentos sociais e estudantis, coletivos de atingidos, entidades sindicais, grupos de estudo, pesquisa e extensão.
A aluna de Jornalismo e representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFOP, Laura Borges, ressaltou que os estudantes de Mariana são impactados pela mineração, especialmente na questão do encarecimento do aluguel: "Disputar constantemente moradia com empresas mineradoras resulta em aluguéis mais elevados, afetando diretamente a dinâmica da comunidade".
Logo após a abertura, deu-se início à mesa-redonda "Por um novo modelo de mineração: O que a Universidade tem a dizer?". Nela estavam presentes os professores da UFOP Karine Carneiro, Adivane Terezinha Costa e André Sales, além da estudante de Jornalismo e membro do Programa de Educação Tutorial (PET) do Icsa, Lívia Sales.
Karine Cordeiro, do Departamento de Arquitetura e uma das coordenadoras do Grupo de Estudos e Pesquisa Socioambientais (Gepsa) da UFOP, iniciou a apresentação utilizando um capítulo do livro "Mineração: realidades e resistências", organizado por ela e pela professora Tatiana Ribeiro, do Departamento de Direito, também coordenadora do Gepsa. Karine destacou a questão da resistência no campo acadêmico e que "não há neutralidade na ciência".
Segundo ela, "A resistência diz respeito à autonomia na produção de conhecimento científico"."Isso é muito importante desde o início, porque a gente sabe que as empresas buscam a todo custo a chancela da academia, de pesquisadores e de grupos de pesquisa para poderem dizer que aquilo que estão produzindo é para elas", ressaltou.
A professora Adivane Terezinha Costa, do Departamento de Geologia da UFOP, avaliou a dificuldade em tratar da ética ambiental no contexto acadêmico. Ela também é coordenadora do projeto de extensão Rede-UFOP, que cataloga todos os trabalhos relacionados aos rompimentos de barragens, e aproveitou a oportunidade para destacar o impacto do ferro na água: "Ele funciona como uma esponja, carregando metais pesados que vêm do garimpo e do agrotóxico e depois leva isso para outras bacias, o que é muito prejudicial para nós".