Há 130 anos a Princesa Isabel assinava a Lei Áurea, declarando extinta a escravidão no Brasil. Nessa data, cabe-nos refletir sobre os efeitos desse ato e sobre nosso compromisso em reconhecer os erros como passo importante na busca de redução da discriminação racial em nosso país e em todo o mundo. É importante ter em mente que a escravização de pessoas negras na África durou 338 anos e aprisionou, em condições subumanas, mais de cinco milhões. A chamada libertação dessas pessoas representou apenas o atendimento às pressões internacionais. Sem nenhuma preparação ou política para sua sobrevivência, elas foram deixadas à sua própria sorte. O Brasil foi o último país a “abolir” a escravatura, e só o fez “para inglês ver”, como resposta a um regime econômico esgotado e alvo de severas críticas globais. O resultado foi o aprisionamento das pessoas "libertas" a condições sociais cruéis, discriminatórias e degradantes.
Pensar a questão dos negros e seus descendentes no Brasil não pode se ater apenas a essas treze décadas. São quase cinco séculos de subjugo às outras culturas, à negação de suas manifestações religiosas, à inferiorização de sua capacidade criativa e produtiva e, principalmente, à estereotipagem de sua cor/etnia e outros elementos componentes do biótipo afrodescendente. Essas são razões justas para que as ações afirmativas, tais como as cotas raciais, sejam uma política compensatória para dar condições de acesso aos pretos e pardos (além dos indígenas) ao ensino superior e ao trabalho como servidores públicos. A marca explícita no corpo interfere nas oportunidades, e uma instituição pública de ensino como a UFOP tem o dever de contribuir para que essa diferenciação seja minimizada.
Sim, temos um caminho longo a percorrer para que nossos pensamentos tenham mais valor que os nossos traços e a cor da nossa pele. Precisamos nos entender como uma nação diversa por sua constituição, o que é uma de nossas melhores características. Da mesma forma, somos uma universidade multifacetada, o que nos dá a potência de entendimento e diálogo nos diversos campos do conhecimento. Há muitas reflexões a fazer neste treze de maio a caminho de uma mudança de paradigma. Há o que questionar em nossa conduta, em nosso meio, em nossa sociedade para que o racismo seja extirpado de nossas ações e mentes. Por isso, não devemos dar continuidade a essa ocultação da escravidão. Pensar e ensinar a pensar são nossa prática e nosso ofício. Então, que nossos pensamentos estejam na busca da construção dessa tão sonhada sociedade mais justa e igualitária.
Profª. Cláudia Aparecida Marliére de Lima
Reitora da UFOP