O Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) recebeu na quinta-feira (13) o Festival de História, que na edição de 2023 trouxe o tema: "Histórias para não esquecer". Durante todo o dia, ocorreram mesas de debate sobre temas relacionados aos 200 anos da Independência e aos desafios do presente. A mesa "A história pelas lentes do jornalista e do historiador", mediada pelo poeta e professor da UFOP José Benedito Donadon, contou com a participação do professor do Departamento de História (Dehis) e presidente da Associação Nacional de História (Anpuh), Valdei Lopes de Araújo, e do jornalista, biógrafo e escritor marianense Fernando Morais.
Valdei trouxe uma discussão a respeito da vulnerabilidade da democracia e do papel dos historiadores e jornalistas, profissões que, para o professor, contribuem para orientar as pessoas. "A tarefa fundamental do jornalismo e da historiografia é orientar as sociedades a tomar boas decisões. É responder à velha e constante pergunta: Onde estamos e para onde devemos ir? E quais as melhores formas de chegar a esse ponto?". Mas o professor acrescentou que esse modelo de jornalismo e historiografia está "fracassado, por uma nova crise de mídia", em que a internet, que surgiu como fonte de melhorias e avanços, tem proporcionado a disseminação de informações falsas, e a cultura ocidental tem legitimado a "desinformação como informação".
Em uma de suas falas acerca da atuação do jornalista, Fernando Morais criticou a grande imprensa. "O jornalismo está a serviço dos interesses e da ideologia de quem paga as contas no final do mês", pontuou. O jornalista acrescentou que as emissoras de TV e rádio deveriam ser de propriedade social, pois na teoria estão a serviço do povo. "Rádio, televisão e internet não podem ser propriedade sua, é nossa! A Constituição diz que o concessionário de rede de rádio e TV não pode ter mandato eleitoral". No entanto, lembra Morais, a Constituição não é respeitada no Brasil, visto que a grande imprensa se encontra nas mãos de poucas famílias, inclusive de políticos, que transmitem a seus parentes a posse dos negócios e as concessões públicas.
O marianense também se mostrou emocionado por retornar e revelou seu desejo de voltar a morar na cidade. Fernando falou ainda sobre o incentivo que recebeu de seu falecido amigo Roque Camêllo, ex-prefeito de Mariana, para criar um espaço, a Casa de Mariana, que pudesse abrigar seus trabalhos, a fim de que não se perdessem. "Foi Roque que teve a ideia inicial de que tudo que eu havia acumulado na minha vida em termos materiais, como livros e entrevistas, se transformasse em um centro de memórias".
O encontro encerrou a passagem do Festival de História por Mariana. Mas a programação segue para a cidade de Ouro Preto, com exposição na praça Tiradentes, aulões, mesas de debate e show com a banda Macondos.
Confira a programação.