O Projeto Navegação Ampliada para Vigilância Intensiva e Otimizada (Navio), realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Marinha do Brasil, com a colaboração da UFOP, teve início em 20 de novembro, com o embarque da expedição no Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) Tenente Maximiano, apoiado pelos navios Paraguassú e Potengi. O programa é inédito e faz parte da iniciativa Climate Amplified Diseases and Epidemics (Climade), que tem foco no estudo e monitoramento das mudanças climáticas e seus impactos na saúde pública.
O projeto pretende levar assistência médica, odontológica e laboratorial a comunidades ribeirinhas do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ampliando o trabalho feito pela Marinha. A ideia é realizar um monitoramento para identificar patógenos virais circulantes em áreas de difícil acesso, com especial atenção para doenças infecciosas causadas por arbovírus, como dengue, chikungunya, mayaro e covid-19. Para isso, a expedição conta com os laboratórios Central, de Sequenciamento, de Entomologia Médica, de Parasitologia e de Monitoramento Ambiental da Água, instalados nas embarcações.
Entre os tripulantes dos navios, representando a UFOP, está o professor e pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas (Nupeb) Alexandre Reis; o coordenador geral do projeto e pesquisador da Fiocruz, Luiz Carlos Alcântara; a mestranda Rafaela Moreira e o doutorando Alex Chavier, orientandos do professor do Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente (Debio/UFOP) Sérvio Ribeiro; e a mestranda Amanda Ferreira, orientada pelo prof. Alexandre Reis. Além deles, há mais de 30 pesquisadores trabalhando em conjunto com a tripulação da Marinha.
Por conta de problemas sanitários, as comunidades ribeirinhas são amplamente afetadas por doenças intestinais, que levam à desidratação. Pensando nisso, o projeto estabelece um modo de vigilância denominado One Health, direcionado à investigação do bioma, que une o cuidado humano, animal e do meio ambiente. A partir dessas ações, torna-se possível formular políticas públicas de saúde específicas para cada região.
Assim que chegam a essas regiões, os pesquisadores convidam as pessoas da comunidade para participar de triagens médicas, a fim de diagnosticar possíveis doenças e, se necessário, elas são encaminhadas aos médicos presentes para avaliações clínicas. Nessas ações, são realizados testes rápidos também para o diagnóstico de doenças sexualmente transmissíveis (DST).
Alexandre Reis atua na expedição como pesquisador da área de Parasitologia, estudando as parasitoses intestinais, leishmanioses e doença de Chagas. Já os estudantes da UFOP estão trabalhando com entomologia médica na identificação de dípteros, vetores de doenças infecciosas. O pesquisador explica que, com o projeto, "a grande proposta é estudar as alterações climáticas e as possíveis futuras pandemias — os patógenos com potencial de estabelecer futuras pandemias que podem sair desses biomas, como o Pantanal, a Floresta Amazônica etc".
O projeto tem previsão de duração de 5 anos. Na próxima etapa, prevista para fevereiro de 2024, a expedição vai navegar em direção ao município de Cáceres (MT), que faz divisa com a Bolívia, em uma missão de 35 dias, com paradas em várias comunidades.